Brasil é o país que mais produz carne bovina no mundo. Como aliar isso a um desenvolvimento sustentável e lucrativo?
De acordo com o relatório Beef Report, realizado pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), em 2021, a produção de carne bovina no Brasil atingiu o volume de 9,71 milhões de toneladas de carcaça equivalente (TEC). Do total produzido, cerca de 25,51%, o que equivale a 2,48 milhões TEC, foram destinados para exportação, enquanto os outros 7,24 milhões TEC, ou seja, aproximadamente 74,49%, foram comercializados no mercado interno.
O país possui um rebanho de bovinos estimado em 196,4 milhões de cabeças, e uma extensão de pastagens que chega a 163,1 milhões de hectares, demonstrando a força do Brasil no mercado pecuário mundial. Em contrapartida, a produção de gado e outras carnes sofre grandes pressões internacionais por causa de seu potencial de emissão de gases de efeito estufa. A indústria pecuária brasileira é especialmente atingida por isso, pois o segmento teve seu crescimento associado ao desmatamento dos biomas no território e ao aumento das emissões de gás metano (CH4), uma substância diretamente relacionada às mudanças climáticas.
O setor agropecuário brasileiro e órgãos governamentais, porém, têm investido na última década em soluções sustentáveis que diminuam os impactos desse mercado, ao mesmo tempo que fortalecem a competitividade da área. A essa nova estrutura que aos poucos surge para remodelar a indústria, se dá o nome de pecuária sustentável.
A prática da pecuária sustentável engloba uma série de métodos e tecnologias que têm como objetivo produzir carne, couro, leite e seus derivados de forma ambientalmente consciente, eficiente, garantindo o bem-estar animal e a responsabilidade social. Para os pecuaristas, adotar essa postura deve ser uma meta fundamental, não somente por questões éticas e morais, mas também para se manter competitivo em um mercado acirrado de proteína animal e couro. Esses princípios estão listados a seguir.
- Preservação do meio ambiente: a pecuária sustentável busca minimizar o impacto ambiental relacionado à atividade, preservando ecossistemas, reduzindo o desmatamento, a poluição e o uso excessivo de recursos naturais.
- Bem-estar animal: preza pelo cuidado e respeito aos seres, garantindo que eles sejam tratados com dignidade, sem sofrimento desnecessário, além de oferecer condições adequadas de alimentação, abrigo e saúde.
- Eficiência produtiva: busca maximizar a produção de carne, leite e couro, ao mesmo tempo em que minimiza o uso de recursos naturais, como água e energia, diminuindo assim custos relacionados à cadeia produtiva.
- Responsabilidade social: valoriza a relação entre produtores e comunidades locais, gerando empregos, contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico, além de promover a segurança alimentar e nutricional.
As iniciativas desse modelo focado em sustentabilidade ajudam a prevenir consequências ambientais severas que já ocorrem e que só tendem a interferir mais na produção e qualidade de vida nas próximas décadas. Entre esses impactos negativos, pode-se citar:
- Temperaturas mais altas, prejudicando plantações de insumos utilizados para alimentar o gado;
- Savanização e desertificação de terras férteis;
- Degradação de pastagens;
- Secas severas, que impactam diretamente a agropecuária;
- Poluição dos recursos hídricos ao poluir lagos, rios e lençóis freáticos próximos às criações de animais;
- Perda de biodiversidade, influenciando negativamente na fauna e flora local;
- Esgotamento de recursos naturais.
Algumas práticas são essenciais para o empresário do agro que planeja colocar em prática a pecuária sustentável em seu negócio. São elas:
- Iniciativas de preservação de recursos hídricos: preservar a mata ciliar nativa é essencial para manter a qualidade da água e a saúde do ecossistema. Além disso, é possível utilizar a própria água superficial para abastecer os bebedouros do gado, evitando o consumo direto nos rios e lagos e contribuindo para a preservação do meio ambiente.
- Manejo da pastagem: o manejo de pastagem é feito por meio da rotação do gado em piquetes de pasto descansados, permitindo a recomposição do solo e da vegetação. Isso aumenta a disponibilidade de pasto, principalmente em períodos de seca.
- Consórcio agroflorestal: a integração do pasto com a floresta é uma prática que combina o cultivo de árvores com a criação de gado. As árvores mantêm a umidade do solo e fornecem sombra para os animais, melhorando seu bem-estar. Além disso, contribuem para a fertilidade do solo e ajudam a manter o equilíbrio ecológico da propriedade.
- Gestão eficiente dos resíduos: uma pecuária mais sustentável também envolve uma boa gestão dos resíduos produzidos pela atividade, como fezes e urina dos animais. É possível utilizar técnicas de compostagem para transformá-los em adubo orgânico, que pode ser utilizado para fertilizar a pastagem e reduzir a necessidade de adubos químicos.
- Uso de tecnologias sustentáveis: podem ajudar a reduzir o impacto ambiental da atividade. Por exemplo, o uso de sistemas de energia renovável, como painéis solares e turbinas eólicas, pode reduzir a dependência de energia elétrica produzida a partir de fontes não renováveis. Além disso, a utilização de técnicas de irrigação eficientes pode contribuir para a economia de água e a redução do desperdício.
As oportunidades da Pecuária 4.0
Relacionado aos tópicos acima, está o conceito da Pecuária 4.0, uma variante Indústria 4.0 que foca em tecnologias inovadoras pertinentes ao aumento da produtividade e específicas ao setor. A partir de tecnologias como a Internet das Coisas (IoT), Inteligência Artificial e robótica avançada, é possível criar soluções personalizadas ao campo que propiciem um desenvolvimento ainda mais eficiente e ecologicamente viável. Entre as inovações que estão sendo implementadas na indústria, sobressaem-se:
- Sistemas de monitoramento remoto de animais por meio de drones;
- Alimentadores inteligentes que usam inteligência artificial para ajustar a quantidade de ração de acordo com as necessidades de cada animal;
- Uso de impressão 3D para criar próteses personalizadas para animais com deficiência física;
- Robôs de ordenha automatizada para bovinos leiteiros;
- Sistemas de análise de dados em tempo real para detectar problemas de saúde dos animais;
- Câmeras de monitoramento para detectar comportamentos anormais nos animais e prevenir problemas de bem-estar;
- Uso de inteligência artificial para prever a produção de leite ou carne de cada animal;
- Tecnologias de realidade aumentada e virtual para treinamento de trabalhadores e veterinários.
É importante destacar que, para começar a ser sustentável, não é necessário investir pesadamente em soluções e tecnologias de ponta. Com pequenas iniciativas que influenciam positivamente o ambiente ao redor e a eficiência do ciclo produtivo, é possível, aos poucos, implementar novas práticas e ferramentas na medida que o negócio cresce.
Se você quiser saber mais acerca das inovações tecnológicas que estão sendo utilizadas na agricultura, clique aqui e veja nosso texto sobre o assunto: Como a IA pode revolucionar a agricultura sustentável – Viabiliza + (viabilizamais.com.br)
Para saber mais sobre o Beef Report, clique aqui: Abiec lança edição 2022 do seu relatório Beef Report – ABIEC