O papel da biodiversidade na economia industrial

Biodiversidade brasileira dá ao país potencial para se destacar perante ao cenário global de reindustrialização sustentável


Com as novas dinâmicas econômicas surgindo ao redor do mundo e um mercado global cada vez mais preocupado em desenvolver uma economia focada na sustentabilidade e inovação tecnológica, fica evidente a necessidade da indústria brasileira em se adaptar a esse novo cenário.

O país historicamente possui uma indústria com grande potencial, mas que não conseguiu se desenvolver para competir diretamente com os grandes polos mundiais. De acordo com especialistas, durante o ápice do desenvolvimento industrial brasileiro, na década de 80, o planeta passou por um processo denominado desindustrialização, onde países, principalmente os de primeiro mundo, começaram a focar mais em outros setores para gerar um equilíbrio entre os diferentes segmentos econômicos, como serviços e comércio. Aqui, porém, esse fenômeno ocorreu em um momento inoportuno, onde as indústrias, principalmente a de transformação, ainda precisavam de progressos fundamentais ao seu crescimento. 

Desse modo, ao longo do século XXI a presença do setor industrial brasileiro foi diminuindo no quadro socioeconômico da nação. A participação do segmento no PIB nacional, por exemplo, foi de 46% em 1985 para 23,6%. Essa redução, mesmo que semelhante em comparação a outros países ocidentais na mesma época, trouxe consequências para o Brasil. Hoje, se exporta e se produz mais produtos de baixo valor agregado, como as commodities, que são mercadorias de origem primária, como grãos, minérios, madeiras, gado e óleos. Isso afeta diretamente a autonomia da nação, que fica dependente de importação de tecnologias de ponta, encarecendo produtos e soluções no mercado interno, tanto para empresas quanto para a população em geral.

Por isso, com a ascensão de políticas de fomento à indústria sustentável ocorrendo nos Estados Unidos e na Europa, como uma maneira de tentar competir com o mercado chinês no balanço comercial mundial, cria-se um cenário propício para o avanço da indústria brasileira nessa nova tendência de reindustrialização.

Se você quiser saber mais sobre as políticas públicas de fomento à indústria dos EUA que vêm ocorrendo, clique aqui e veja nosso texto sobre o assunto: O que podemos aprender com a indústria norte-americana – Viabiliza + (viabilizamais.com.br)

Para ser capaz de conquistar espaço no mercado industrial global, o Brasil deve se aproveitar, de maneira consciente e estratégica, daquilo que faz da nação única e que pode impulsionar seu desenvolvimento e eventual protagonismo nessa nova era industrial: sua biodiversidade.

Atualmente, as possibilidades que a biodiversidade brasileira gera para o desenvolvimento industrial e científico são inúmeras, abrangendo setores extrativistas e de transformação. Se destacam:

  • Criação de remédios e vacinas a partir de espécies de plantas nativas;
  • Versatilidade no plantio, devido ao solo rico e diverso;
  • Geração de energia limpa através da criação de parques elétricos em locais estratégicos;
  • Diversidade de alimentos e matérias-primas para geração de alimentos na indústria;
  • Criação de produtos cosméticos com compostos naturais;
  • Materiais sustentáveis para construção civil e para criação de produtos advindos das indústrias de transformação.


O papel da biodiversidade na indústria de energia


Hoje, o Brasil é o 13º país no Índice de Atratividade de Países em Energia Renovável (RECAI) e lidera a América Latina no potencial de geração de energia limpa. A pesquisa, feita pela multinacional Ernst & Young (EY), aponta como líderes no ranking os Estados Unidos, a China e o Reino Unido. De acordo com o diretor-executivo do setor de energia da EY no Brasil, o país tem crescido no uso de energias renováveis e possui grandes chances de se destacar ainda mais. 

“O ambiente de negócios em fontes renováveis no Brasil foi prejudicado por problemas econômicos e estruturais acentuados pelos impactos da alta das commodities no mundo. Apesar disso, houve avanços legislativos e regulatórios com relação a uma modernização do setor elétrico e incentivos à implantação de fontes renováveis”, afirmou André Flávio.

Se você quiser saber mais sobre os desafios da transição energética no Brasil, clique aqui e veja nosso texto sobre o assunto: Transição energética é necessária, mas desafiadora – Viabiliza + (viabilizamais.com.br)

A imagem do país como gerador de energia verde não é nova, sendo reconhecido por fazer grandes investimentos em transição energética nas últimas décadas. Tais resultados são constatados quando observa-se a matriz energética brasileira nos dias atuais: de acordo com o Ministério de Minas e Energia, em 2021, quase 50% da matriz era originada por fontes de energia renováveis, sendo que a energia eólica, sozinha, corresponde a 10,9% dessa proporção, com projeções de que ela chegue a 13,6% até o fim de 2025. 

André Osório, diretor do Departamento de Informações e Estudos Energéticos do Ministério de Minas e Energia (MME) na época do levantamento, ressaltou a importância do significado desses dados ao compará-los com o resto do mundo. “A matriz brasileira é uma das mais renováveis do mundo com uma proporção de 48%, indicador mais de três vezes superior à média mundial”, constatou.

Essa variedade na balança energética só é possível devido a diversidade natural do país. O território brasileiro é composto por seis biomas diferentes entre si, com espécies de animais e plantas, climas e geologia distintos. São eles:

  • Amazônia: A maior floresta tropical do mundo, com uma incrível biodiversidade de plantas e animais.
  • Mata Atlântica: Bioma costeiro com rica diversidade biológica, mas ameaçado pela atividade humana.
  • Cerrado: Savana com árvores de pequeno porte e rica biodiversidade, ameaçada pelo desmatamento.
  • Caatinga: Bioma semiárido com vegetação de arbustos espinhosos e animais adaptados à seca.
  • Pantanal: Maior planície alagável do mundo, lar de diversas espécies de animais e plantas.
  • Pampa: Planalto coberto de gramíneas e matas de galeria, presente principalmente no sul do Brasil.



Cada um desses biomas possui características e potencialidades diferentes. A partir disso, é possível traçar estratégias de aproveitamento desses recursos de maneira sustentável e ambientalmente responsável. Essas soluções, entretanto, são complexas e muitas vezes apresentam ônus que acompanham o desenvolvimento de projetos focados em uma economia verde. 

Um exemplo disso é o Nordeste, que é responsável por 86% da obtenção de energia eólica no país. Isso se deve ao clima ímpar da Caatinga, que proporciona uma grande eficiência energética na geração elétrica a partir da força dos ventos. Ao mesmo tempo, pesquisadores veem essa concentração como algo perigoso para o bioma, que pode trazer consequências à fauna e flora da região, o que, consequentemente, pode resultar em efeitos negativos na vida das pessoas que moram nessas áreas caso esse progresso não seja feito de maneira correta e consciente. 

De acordo com o professor e pesquisador do Departamento de Botânica da UFPE, Felipe Melo, criar novas unidades de conservação da Caatinga é fundamental para acompanhar a expansão de parques eólicos, de maneira a desenvolver esse setor de maneira menos danosa para o ambiente. Essa constatação pode ser generalizada para as outras regiões, que também devem ter sua biodiversidade explorada da maneira mais correta possível.

Para saber mais sobre o ranking do Brasil no RECAI em 2022, clique aqui: Brasil lidera capacidade de geração de energia renovável na América Latina (ey.com)

Para saber mais sobre os parques eólicos no Nordeste e seus possíveis riscos, clique aqui: Fazendas de energia eólica prejudicam a conservação da Caatinga – Pesquisas (Ascom) – UFPE

Se você quiser saber mais sobre as projeções trilionárias na economia brasileira até 2050 com a adoção da Bioeconomia, clique aqui e veja nosso texto sobre o assunto: Sustentável e rentável: conheça a bioeconomia – Viabiliza + (viabilizamais.com.br)

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