O Legado de Henry Ford

Além do peso histórico que possui, o modelo de produção criado por Henry Ford revolucionou a maneira como se entende a produtividade


O Fordismo é uma das principais referências da segunda revolução industrial, que marcou a transição do artesanal para a produção em massa. Esse modelo foi criado pelo empresário norte-americano Henry Ford no início do século XX, que aplicou em sua fábrica a linha de produção, onde cada trabalhador era responsável por uma etapa específica na cadeia produtiva.

Henry Ford nasceu em 30 de julho de 1863, em uma fazenda no estado de Michigan, nos Estados Unidos. Ele foi um empresário e inventor que ficou famoso por ter desenvolvido e produzido o primeiro automóvel acessível ao público em geral, o Modelo T. Ford. Os adventos da segunda revolução industrial, como a eletricidade e substituição do ferro pelo aço nas indústrias, também propiciaram o aparecimento desse modelo de produção.

Se você quiser saber mais sobre as 4 revoluções industriais, clique aqui e veja nosso texto sobre o assunto: Causa e efeito: (r)evoluções industriais – Viabiliza + (viabilizamais.com.br)

Entre as principais características do sistema produtivo fordista naquela época, é possível destacar:

  1. Padronização: os produtos são produzidos em série, de acordo com um processo altamente padronizado, com o objetivo de alcançar a máxima eficiência e produtividade;
  1. Linha de montagem: a produção é organizada de um modo em que cada trabalhador é responsável por uma tarefa específica, resultando em uma maior eficiência e produtividade;
  1. Integração vertical: o controle das diferentes etapas da produção é realizado pela empresa, desde a obtenção das matérias-primas até a venda do produto final;
  1. Salário alto e padrão de vida: os trabalhadores são remunerados com salários relativamente altos, com o objetivo de garantir a fidelidade dos funcionários e melhorar o padrão de vida dos trabalhadores e suas famílias;
  1. Produtos acessíveis: a produção em massa permite a redução dos custos de produção, tornando os produtos acessíveis a um público mais amplo, o que leva a um aumento na demanda e, consequentemente, a um aumento na produção e no lucro da empresa.


Durante os anos de 1908 a 1914, a produção de automóveis da Ford cresceu exponencialmente, passando de 6.938 para 248.307 veículos produzidos. Como consequência, houve um aumento significativo no número de trabalhadores empregados pela empresa, saindo de 450 funcionários em 1908 para 12.880 em 1914. Esse crescimento foi acompanhado pela contratação de trabalhadores de baixa qualificação e experiência industrial, em sua maioria imigrantes do sudeste europeu, região que tinha sua economia baseada em atividades agropastoris. Em 1914, esse grupo ocupacional tornou-se predominante na empresa.

O modelo, porém, também cresceu acompanhado de problemas. Os altos salários, por exemplo, foram resultantes da resistência dos trabalhadores das fábricas por causa das extensas jornadas de trabalho e de outros problemas relacionados a isso. De acordo com o doutor e professor adjunto da União Paranaense de Ensino e Cultura, Fábio Luiz San Martins, em seu artigo denominado “Henry Ford e a questão salarial”, o aumento salarial ocorreu principalmente para resolver os desafios da retenção de mão de obra nas fábricas.

“A direção da Ford previa que os salários médios mais elevados encorajariam vínculos de emprego de mais duradoura permanência, o que contribuiria para combater o absenteísmo e a alta rotatividade das ocupações na empresa. Combinado a isso, o aumento dos salários médios poderia, na avaliação da administração da Ford, facilitar a adaptação dos trabalhadores aos métodos novos de produção e de trabalho, pois lhes abriria a perspectiva de saltar para faixas salariais mais altas conforme melhorassem o desempenho nas tarefas e funções”, afirmou Martins em sua pesquisa.

Outras dificuldades relacionadas ao fordismo foram se evidenciando ao longo do tempo e, hoje, são objetos de estudo que ajudam a compreender as características materiais da época e seus desdobramentos históricos na indústria, sociedade e economia no geral. Entre esses outros desafios, pode-se citar:

  • Monotonia e alienação no trabalho: os trabalhadores eram responsáveis por uma tarefa específica na linha de montagem e não tinham controle sobre o processo de produção, resultando em uma monotonia e alienação no trabalho que levava a baixa motivação e satisfação dos funcionários;
  • Falta de flexibilidade: o sistema altamente padronizado do Fordismo tornava difícil fazer mudanças no processo de produção ou na fabricação de novos produtos, tornando a empresa menos adaptável a novas demandas e inovações do mercado;
  • Riscos de produtos com falhas: ao mesmo tempo que o fordismo revolucionou a gestão de qualidade na época com seu sistema de racionalização da produção em massa, a fabricação de automóveis em altíssima quantidade e com custo reduzido aumentou o risco de falhas e avarias nos produtos que iam para o consumidor.
  • Estoques excessivos: resultou em grande armazenamento de produtos acabados, levando a problemas relacionados à obsolescência, custos altos em estocagem e problemas de previsão de demanda.



Após a Segunda Guerra Mundial, com os problemas relacionados à escassez de matéria-prima e a dificuldades logísticas em muitos países, Sistemas que surgiram na terceira Revolução Industrial, como o Toyotismo e as metodologias Lean, que lidavam com a produção e o estoque de maneira mais eficiente e focada na produção por demanda, foram criados para adaptar a cadeia produtiva das indústrias em um mundo cada vez mais volátil.

Independentemente dos desafios agregados à sua história, o Fordismo impacta a indústria global até hoje devido suas inovações em gerenciamento e dinâmica de produção. Entre muitos dos ensinamentos deixados por Henry Ford, há três princípios utilizados massivamente por empresas da atualidade. São eles:

  • Princípio de Intensificação: Acelerar a produção usando equipamentos e matérias-primas imediatamente para entregar o produto mais cedo no mercado.
  • Princípio de Economicidade: Reduzir os estoques de matéria-prima, aumentar a velocidade de produção para vender o produto antes de sua fabricação e receber o pagamento mais cedo.
  • Princípio de Produtividade: Melhorar a produção através da padronização da linha de montagem.



Se você quiser saber mais sobre a história do Toyotismo, clique aqui e veja nosso texto sobre o assunto: O legado de Shingo – Viabiliza + (viabilizamais.com.br)



Se você quiser saber mais sobre o Lean Manufacturing, clique aqui e veja nosso texto sobre o assunto: O impacto do Lean Manufacturing na eficiência industrial – Viabiliza + (viabilizamais.com.br)


Para saber mais sobre o artigo citado no texto, clique aqui: Henry Ford e a questão salarial | Revista Economia Ensaios (ufu.br)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Recentes