A degradação da pastagem é um problema comum aos produtores da indústria agropecuária. Entenda as melhores estratégias para lidar com o desafio.
A degradação das pastagens é um problema mundial que afeta muitas regiões do planeta. De acordo com estudo de 2004 da United Nations Environment Programme (UNEP), aproximadamente 20% das pastagens naturais e plantadas estão atualmente degradadas ou em processo de degradação. Entretanto, em áreas mais áridas, essa proporção é ainda maior, podendo ser três vezes superior à média global. Isso representa um grande desafio para a pecuária, uma vez que as pastagens são uma fonte importante de alimentação para o gado.
O Brasil possui uma extensão significativa de pastagens naturais ou plantadas, correspondendo a cerca de 200 milhões de hectares. Entretanto, dados alarmantes expostos pela Embrapa apontam que mais de 60% desse total, o que representa cerca de 130 milhões de hectares, estão em algum grau de degradação.
Essa degradação pode resultar em baixa produtividade na agropecuária e, por consequência, na abertura de novas áreas para pastagem, o que pode contribuir para o desmatamento. Porém, o setor agropecuário busca cada vez mais soluções tecnológicas sustentáveis para lidar com os seus passivos ambientais e atender às demandas do mercado.
Muitas das soluções estão relacionadas a um conceito de importante valor na indústria pecuária: o manejo de pastagem. O manejo de pastagens consiste em um conjunto de práticas que têm como objetivo maximizar a produção de carne e leite pelo rebanho, sem comprometer o crescimento das plantas e a saúde do solo.
É necessário, para aplicar estratégias de manejo eficientes, compreender os dois principais sistemas utilizados na agropecuária. São eles:
- O sistema de pastejo contínuo, ou lotação contínua, que é utilizado quando a pastagem é formada por plantas nativas ou naturais e apresenta baixa taxa de produtividade. Nesse sistema, o rebanho permanece na mesma área de pasto durante todo o ano.
- O sistema de pastejo rotacionado, ou lotação rotacionada, que é dividido em piquetes, que são utilizados sequencialmente, com períodos definidos de ocupação e descanso. Esse sistema permite que as plantas forrageiras se recuperem do pastejo para que sejam consumidas novamente no futuro, garantindo alta produtividade. O produtor precisa gerenciar a produção de forma a equilibrar as necessidades da planta e dos animais, de modo a garantir a eficiência da produção.
Além disso, alguns conceitos utilizados na ciência por trás do manejo de pastagens tem como objetivo definir métricas para análise e direcionamento de práticas que aumentam a produtividade. Entre elas, destacam-se:
- Taxa de lotação: é a quantidade de animais por área de pastagem. É medida em unidades animais (UA) por hectare (ha).
- Pressão de pastejo: é a relação entre o peso vivo dos animais e a quantidade de forragem disponível para eles. É medida em quilograma de peso vivo por quilograma de matéria seca por dia.
- Forragem disponível: é a quantidade de capim seco disponível para cada 100 kg de peso vivo do animal por dia. É medida em quilogramas de matéria seca por animal por dia.
- Capacidade de suporte: é a taxa de lotação em uma pressão de pastejo, durante um período de tempo definido, em que a produção animal por área é maximizada sem degradar a pastagem. A capacidade de suporte varia de acordo com os fatores que influenciam a oferta de forragem ao longo do ano, como solo, clima, estação do ano e espécie de forrageira.
Algumas estratégias adotadas no setor pecuário tratam de desafios específicos ou que resolvem problemas situacionais no campo, como a influência do clima, enquanto outras servem como uma solução multidisciplinar e holística, como visto a seguir.
Manejo em época de seca: O período de seca é caracterizado pela falta de chuvas e menor disponibilidade de água no solo, o que impede o crescimento do pasto, reduzindo a capacidade de suporte das pastagens. Para evitar a perda de peso dos animais e garantir a produtividade da fazenda, é importante planejar o manejo ainda no período das águas. Confira algumas estratégias para se preparar para o período de seca:
- Realizar um bom controle de estoque de forragem e avaliar a capacidade de suporte da pastagem;
- Investir em técnicas de conservação de forragem, como silagem e feno;
- Adotar a suplementação alimentar com ração e outros alimentos que garantam o ganho de peso dos animais;
- Fazer o manejo adequado dos animais, ajustando a taxa de lotação à disponibilidade de forragem;
- Utilizar sementes de plantas mais resistentes à seca e adaptadas à região;
- Fazer a manutenção e conservação da infraestrutura de irrigação e abastecimento de água.
Limpeza do pasto: manter o ambiente limpo é fundamental para garantir a saúde e o bem-estar do gado. A limpeza evita a acumulação de lixo e materiais que podem prejudicar a saúde dos animais e a presença de insetos e parasitas. Além disso, é importante estar atento a possíveis poças de lama que podem se formar, pois os animais que bebem essa água podem adoecer. O hábito também é importante para a qualidade do pasto, já que o excesso de barro e a falta de nutrientes do solo podem prejudicar o crescimento da grama.
Vedação de pastagem: é uma prática que consiste em retirar os animais de uma área de pasto antes do período de seca para permitir o acúmulo de forragem. Recomenda-se vedar em média 20 hectares para cada 20 unidades animais e pastejar a área vedada em parcelas durante o período de seca para aumentar a eficiência de pastejo.
Manejo adequado da adubação: essencial para manter uma boa qualidade do pasto, a adubação também acelera e aumenta a quantidade de forragem disponível na pastagem. Estudos indicam que cada quilograma de nitrogênio aplicado por hectare de pastagem na forma de fertilizante pode resultar em um acréscimo de aproximadamente 50 kg de matéria seca de forragem por hectare.
Manutenção da altura do pasto: é importante manter a altura ideal do pasto para garantir a saúde dos animais e a produtividade da pastagem. Pastos com menos de 20 cm de altura contêm uma alta quantidade de vermes no solo e podem prejudicar a saúde dos animais. A altura ideal é de 50 a 60 cm, mas pode varias de acordo com a espécie de folha. Se for utilizado o capim mombaça em pastejo rotacionado e adubado, por exemplo, a altura ideal de entrada dos animais é de 90 cm. Já a braquiária brizantha deve ter sua altura máxima de manejo em 40 cm e receber o primeiro pastejo entre 30 e 40 cm. Outras espécies terão uma altura específica ideal e é importante para o produtor estudar acerca das características únicas das plantas que serão utilizadas.
Venda programada de animais: Antes do período das águas, é interessante realizar um levantamento do rebanho para estimar o peso previsto até o final do período. Assim, é possível traçar um plano nutricional para cada lote e potencializar o ganho de peso. É estrategicamente viável, também, reduzir a carga animal da fazenda vendendo mais animais no período chuvoso e diminuir a pressão de pastejo, deixando apenas as categorias animais de menor peso corporal e menor consumo de forragem.
Uma infraestrutura adaptada às demandas de manejo é essencial para criar uma cadeia produtiva eficiente
As possibilidades de otimização dessas soluções são vastas, podendo ir desde de estruturas de armazenagem até sistemas tecnológicos que auxiliam diretamente na análise para o manejo do solo. Para isso, pensar na infraestrutura se mostra fundamental para um crescimento orgânico da produção, sendo possível utilizar abordagens distintas que influenciarão positivamente no crescimento do negócio:
- Sistemas de irrigação: podem ser necessários para garantir o fornecimento adequado de água para as culturas. Isso inclui sistemas de irrigação por aspersão, gotejamento ou microaspersão, que requerem a construção de tubulações, canais, reservatórios e outros equipamentos.
- Estruturas de contenção de água: para conservação do solo, podem ser necessárias barragens, represas, açudes e outras estruturas hidráulicas que podem exigir a construção de muros, taludes e sistemas de drenagem.
- Armazenamento de grãos: após a colheita, os grãos devem ser armazenados em estruturas apropriadas para proteger a qualidade e a integridade do produto. Isso pode incluir a construção de silos, armazéns e outras instalações de armazenamento que exigem a construção de fundações, pisos e estruturas metálicas.
- Infraestrutura de acesso: para acesso aos terrenos agrícolas, pode ser necessário construir estradas, pontes, passagens de nível e outras infraestruturas de transporte que exigem a construção de pavimentos, muros de contenção e outras obras de engenharia civil.
- Infraestrutura de processamento: para o processamento e embalagem dos produtos agrícolas, podem ser necessárias instalações como usinas de açúcar, fábricas de óleo e unidades de processamento de carne.
Além desses tópicos, se mostram cada vez mais presentes na área inovações que propiciam um aumento da eficácia de todo o ciclo produtivo do plantio e que, de maneiras diretas e indiretas, facilita o processo de manejo do solo. São elas:
- Uso de técnicas de conservação de solo: o uso de técnicas como plantio direto, terraceamento, curvas de nível e cobertura vegetal pode ajudar a proteger o solo da erosão, melhorar a infiltração de água e reduzir a compactação do solo.
- Agricultura de precisão: envolve o uso de tecnologias avançadas, como sistemas de informação geográfica, GPS e sensores remotos, para obter informações mais precisas sobre as condições do solo e, assim, fazer melhor uso dos recursos disponíveis.
- Manejo integrado de nutrientes: realiza o uso de fertilizantes e outros nutrientes em quantidades e momentos adequados para garantir a saúde do solo e a produtividade das culturas. Isso pode envolver o uso de fertilizantes orgânicos, como esterco e adubos verdes, para melhorar a qualidade do solo e reduzir a dependência de fertilizantes químicos.
Para saber mais sobre as estimativas expostas pela Embrapa, clique aqui: Prosa Rural – Manejo previne a degradação de pastagens garantindo lucro e sustentabilidade [REPRISE] – Portal Embrapa
Para saber mais sobre a UNEP, clique aqui: UNEP – UN Environment Programme
Para saber mais sobre as métricas utilizadas no manejo de pastagem, clique aqui: Microsoft Word – folder_manejodepastagem_anakarina (embrapa.br)