Dados da ABVE confirmam crescimento de veículos elétricos no país
O mercado de carros elétricos vem conquistando espaço na economia brasileira. Segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), em 2022, o Brasil já ultrapassou a marca de 100 mil veículos eletrificados (híbridos e elétricos) vendidos. Este é um número significativo e que tem potencial para se expandir, já que há uma crescente demanda por fontes de energia renováveis, o que tem convencido cada vez mais motoristas e fabricantes. De acordo com a pesquisa da ABVE, somente no último ano, foram vendidas 49.245 unidades, um aumento de 41% em relação ao ano anterior.
Os automóveis elétricos funcionam por meio de um motor alimentado por baterias. Diferente dos carros movidos a combustão interna, que usam combustíveis fósseis, os carros elétricos não emitem gases poluentes durante o uso, o que os torna uma opção mais sustentável e amigável ao meio ambiente. Além disso, esses veículos possuem um torque mais elevado em baixas rotações, o que os torna mais ágeis em situações de trânsito intenso.
Embora essa alternativa de veículo ainda tenha um custo mais elevado do que os carros movidos a combustão, a sua popularidade tem crescido nos últimos anos, principalmente nas grandes potências, mas análises de mercado comprovam que essa tendência é global, com um movimento de mesma escala para a implementação desse tipo de produto a fim de substituir os modelos tradicionais.
É o caso da Europa, que está comprometida em implementar um cronograma eficaz para a adoção de veículos de passageiros e comerciais leves (como furgões e picapes) com emissões zero de dióxido de carbono (CO2). O Parlamento Europeu aprovou a medida com 56% dos votos favoráveis, estabelecendo duas datas-limite para a redução das emissões: uma diminuição de 50% do CO2 até 2030 e 100% até 2035.
No Brasil, a criação de políticas públicas relacionadas a esse tópico possui um ritmo mais lento, mas que gradativamente tem aumentado. Acerca do levantamento da ABVE, o presidente da instituição, Adalberto Maluf, comemorou o crescimento do setor, mas deu ressalvas quanto aos próximos passos. “Esses 100 mil são um grande destaque e mostram que o Brasil está no rumo certo, mas ainda falta muita coisa para a eletrificação avançar (…) Precisamos de uma política nacional de eletromobilidade, ou seja, de políticas públicas alinhadas e coordenadas entre o governo federal e os governos estaduais e municipais para incentivar a transição do veículo a combustão para o veículo elétrico “, argumentou.
A partir das análises da pesquisa, a ABVE projeta que as vendas de elétricos plug-in (BEV e PHEV) no planeta cresçam de maneira ainda mais vertiginosa, podendo chegar a 12 milhões de veículos, representando quase duas vezes mais do que em 2021. “O Brasil não pode se isolar das cadeias produtivas globais do setor automotivo. O risco é o país perder ainda mais competitividade internacional e tecnológica, deixar de gerar renda e não produzir novos empregos de qualidade”, acrescentou Adalberto Maluf em palestra no Instituto de Engenharia.
De acordo com outro estudo, dessa vez da Citibank, denominado “State of Global Electric Vehicle Adoption” (em português, Estado da Adoção Global de Veículos Elétricos), ao considerar a quantidade mundial de vendas agregadas, a participação dos veículos elétricos e híbridos no mercado de automóveis foi de 14,7% em 2022 e é previsto que alcance os 20% em 2023. China e Europa são as regiões que mais incrementam esses números, com uma indústria automobilística focada em desenvolver tecnologias que tornem a fabricação cada vez mais barata, eventualmente diminuindo o preço para o consumidor final.
Desafios e oportunidades para a implementação de veículos elétricos no Brasil
Ainda há muito o que se fazer no país para que as indústrias estejam preparadas para produzir em larga escala automóveis desse tipo. Entre os maiores desafios, destacam-se:
- Infraestrutura de Recarga: é um dos principais desafios para a adoção de veículos elétricos no Brasil. Ainda são poucos os postos de recarga disponíveis no país, o que gera uma limitação para o uso dos automóveis e também pode desencorajar a compra por parte dos consumidores.
- Custo dos Veículos: o preço dos veículos elétricos é ainda mais elevado do que os veículos movidos a combustível fóssil. No Brasil, tal problema fica mais acentuado devido a necessidade de não se ter – ainda – uma indústria automobilística totalmente preparada para essas mudanças, o que faz com que o acesso a esses veículos seja limitado para muitos consumidores brasileiros.
- Fornecimento de Energia Elétrica: a confiabilidade do fornecimento de energia elétrica no Brasil ainda não é total, o que pode gerar um desafio para a adoção de veículos elétricos. A demanda eletricidade também pode aumentar, exigindo uma expansão na geração e distribuição de energia.
- Mudanças na Indústria Automobilística: a transição da indústria automobilística para a produção de veículos elétricos é um desafio significativo em termos de custos e tecnologia. As montadoras precisam investir em novas tecnologias e mudar seus processos de produção para atender à crescente demanda por veículos elétricos. Além disso, a importação de peças para a fabricação de carros nacionais encarece a cadeia produtiva.
- Adoção pelo Consumidor: outro grande desafio para a implementação de veículos elétricos. Muitos consumidores ainda são céticos em relação à tecnologia e preferem os veículos movidos a combustível fóssil. A falta de informação e educação sobre as vantagens dos veículos elétricos também pode ser um obstáculo para a sua popularização.
Somadas a esses desafios, porém, encontram-se oportunidades que podem ser exploradas pela indústria e pelo governo, de modo a criar um ritmo de crescimento que acompanhe as tendências do mercado global. São elas:
- Potencial de Crescimento: o mercado ainda é relativamente pequeno no Brasil, mas há um grande potencial para que esse cenário mude nos próximos anos. A demanda por veículos elétricos deve aumentar à medida que os consumidores se conscientizarem dos benefícios relacionados às alternativas aos carros tradicionais.
- Incentivos Fiscais e Governamentais: o governo brasileiro tem incentivado essa adoção através de incentivos fiscais e outros programas, como a PL 6.020/2019, aprovada em 2022, que determina que as empresas beneficiadas por renúncias fiscais no programa Rota 2030 – Mobilidade e Logística, devem aplicar 1,5% do benefício tributário em pesquisas sobre o desenvolvimento da tecnologia para veículos elétricos. Esses incentivos podem ajudar a reduzir os custos dos veículos elétricos para os consumidores e aumentar a demanda.
- Geração de Energia Renovável: o país é um dos líderes em energia renovável no mundo, com sua matriz energética sendo três vezes mais verde que a média global. Isso pode ajudar a tornar os veículos elétricos ainda mais sustentáveis e atraentes para os consumidores. Além disso, a expansão da geração de energia renovável pode ajudar a reduzir os custos da eletricidade, tornando a recarga e manutenção dos automóveis mais acessível.
Se você quiser saber mais sobre a transição energética no Brasil e seus desafios, clique aqui e veja nosso texto sobre o assunto: Transição energética é necessária, mas desafiadora – Viabiliza + (viabilizamais.com.br)
Para saber mais sobre o levantamento da ABVE, clique aqui: 100 mil eletrificados já circulam no Brasil – ABVE
Para saber mais sobre as políticas de adoção de veículos elétricos na Europa, clique aqui: Carros novos na Europa só elétricos, a partir de 2035 (uol.com.br)
Para saber mais sobre a pesquisa da Citibank acerca da adoção de veículos elétricos no mundo, clique aqui: State of Global Electric Vehicle Adoption (citi.com)
Para saber mais sobre a PL 6.020/2019, clique aqui: Comissão aprova incentivo para veículos elétricos no Brasil (uol.com.br)