A desconcentração industrial é um fenômeno que ocorreu ao longo do século XX e continua até os dias de hoje, tendo um impacto significativo no país. No Brasil, a industrialização, fenômeno anterior à desconcentração e que foi responsável por estabelecer diversos polos industriais no país, teve um início tardio, mas ocorreu de maneira relativamente rápida, iniciando-se nos anos 1930 e consolidando-se a partir dos anos 1970.
Esse processo foi marcado por uma significativa concentração industrial no país, principalmente na região Sudeste, que aproveitou a infraestrutura já estabelecida pela economia cafeeira, em particular nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, foi o epicentro da industrialização brasileira.
A industrialização teve início com a implementação da política de substituição de importações, especialmente durante o governo de Getúlio Vargas, após a Crise de 1929 e o declínio da economia baseada no café. A região Sudeste, com sua infraestrutura de transporte, comunicação e o poder econômico concentrado nas elites de São Paulo e Rio de Janeiro, atraiu a maioria das indústrias.
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No entanto, ao longo do tempo, diversos fatores contribuíram para a desconcentração industrial, estando diretamente ligados às migrações das fábricas e empresas no território nacional. Atualmente, pode-se observar um processo de descentralização das indústrias na região Sudeste, embora ainda haja um longo caminho a ser percorrido.
Um dos principais motivos foram as políticas de desenvolvimento regional implementadas pelo governo do Estado, que buscavam reduzir as desigualdades entre as regiões do país. Essa política incentivou a criação de polos industriais em outras partes do Brasil, como o Nordeste, Sul e Centro-Oeste.
Além disso, o processo de desconcentração foi impulsionado pela busca por novas fontes de matéria-prima e recursos naturais, bem como pela expansão do mercado consumidor em outras regiões. Empresas começaram a se instalar em locais estratégicos, levando em consideração fatores como logística, acesso a portos e incentivos fiscais oferecidos pelos governos locais.
Os efeitos da desconcentração industrial foram significativos. Em primeiro lugar, houve uma redistribuição de empregos e renda, beneficiando outras regiões do país. Isso contribuiu para reduzir as desigualdades socioeconômicas entre as diferentes partes do Brasil. Além disso, a desconcentração também promoveu o desenvolvimento de infraestrutura em outras regiões, como a construção de estradas, portos e sistemas de abastecimento de água e energia.
Por outro lado, a desconcentração industrial também gerou desafios. Muitas cidades que eram dependentes de indústrias específicas no Sudeste sofreram com o declínio econômico e o desemprego. A infraestrutura desenvolvida ao longo dos anos no Sudeste, como portos e ferrovias, também precisou ser adaptada para atender às novas demandas logísticas das regiões em crescimento.
A desconcentração industrial atualmente
Nas últimas décadas, pôde-se perceber uma migração de grandes indústrias localizadas no Sudeste para outras regiões, como é o caso da Jeep, gigante da indústria automobilística, que estabeleceu uma de suas fábricas no Polo Automotivo Stellantis de Goiana (PE) em 2015 e, neste ano, alcançou o marco de 1 milhão de unidades fabricadas.
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Outro exemplo é o progressivo crescimento da indústria de vestuários no Sul, onde Santa Catarina é, hoje, líder na indústria têxtil, ultrapassando São Paulo em valor de transformação industrial dentro do segmento.
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Nesse contexto, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), houve uma significativa desconcentração da indústria brasileira ao longo da última década, com uma redução na participação da região Sudeste no PIB industrial e um aumento na participação das demais regiões geográficas, como Sul, Centro-Oeste, Nordeste e Norte.
Nesse movimento, São Paulo registrou uma queda de 5,5 pontos percentuais em sua participação na produção da indústria de transformação, que é o principal segmento industrial do país. Essa queda foi a mais acentuada entre os 26 estados e o Distrito Federal. O Rio de Janeiro teve o segundo pior desempenho, com uma redução de 1,1 ponto percentual. Os dados da pesquisa comparam os biênios 2007-2008 e 2017-2018.
De acordo com Renato da Fonseca, economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI), São Paulo mantém sua posição como o maior polo industrial do Brasil. No entanto, temos observado uma tendência de migração da indústria brasileira para fora da região Sudeste.
Essa mudança resultou em uma redução de 7,5 pontos percentuais na participação da indústria de transformação do Sudeste, sendo que as regiões Sul e Nordeste foram as principais beneficiadas, aumentando suas participações em 3,2 e 2,8 pontos percentuais, respectivamente. Apesar desse movimento, São Paulo ainda representa significativos 38,14% do valor adicionado na indústria de transformação, enquanto o segundo colocado, Minas Gerais, possui uma participação de 10,10%.
De acordo com o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, o fenômeno da desconcentração industrial pode ser visto com bons olhos. “Essa diversificação regional é um movimento positivo, porque observamos o desenvolvimento econômico de outros estados. A indústria usualmente paga os melhores salários e fermenta indústrias menores dentro da mesma cadeia produtiva e alavanca os outros setores, como o de serviços”, afirmou o presidente.
Para saber mais acerca do levantamento da CNI, clique aqui: Indústria migra do Sudeste para as demais regiões do país em dez anos, mostra estudo da CNI – Agência de Notícias da Indústria (portaldaindustria.com.br)