Metodologia é uma das principais aliadas na gestão da qualidade
Reduzir custos, aumentar a produtividade, melhorar a qualidade dos produtos e serviços e atender às expectativas dos clientes – todos esses tópicos se configuram como grandes desafios das indústrias modernas. Além disso, com a globalização dos mercados, as empresas precisam concorrer com empresas de outros países que oferecem produtos de qualidade similar ou superior.
Nesse contexto, aqueles que querem se destacar no mercado tendem a buscar métodos que possam auxiliar na conquista da excelência em seus produtos e serviços. A filosofia Lean e suas ferramentas, por exemplo, surge como uma impulsionadora da eficiência no ciclo produtivo de indústrias. Entre vários métodos disponíveis, há um que possui grande destaque no setor de qualidade: o Six Sigma.
O Six Sigma, ou Seis Sigma em português, é uma metodologia de gestão de qualidade que tem como objetivo reduzir a variabilidade dos processos e melhorar a eficiência e eficácia das operações de uma empresa. A abordagem se concentra em medir e analisar dados para identificar e eliminar defeitos e falhas, bem como para minimizar a variação em produtos e serviços entregues ao cliente.
Esse sistema foi inicialmente desenvolvido na década de 1930, por Walter A. Shewhart, que usava a distribuição normal para prever o comportamento de seus processos e evitar problemas como descalibrações em suas máquinas. Foi em 1980, porém, que a técnica se popularizou ao ser adaptada pelo engenheiro Bill Smith e utilizada na Motorola, empresa na qual ele trabalhava.
O conceito é baseado em um conjunto de ferramentas e técnicas estatísticas que ajudam a identificar a causa-raiz dos problemas, bem como a planejar, implementar e monitorar soluções eficazes. A metodologia utiliza um ciclo de melhoria contínua conhecido como DMAIC (Definir, Medir, Analisar, Melhorar e Controlar), que visa maximizar a satisfação do cliente, melhorar a eficiência operacional e aumentar a rentabilidade da empresa. Os cinco passos do DMAIC são, respectivamente:
- Definir o problema: identificar claramente o problema e estabelecer objetivos para a melhoria do processo ou produto, levando em conta as opiniões dos consumidores.
- Medir os aspectos importantes: coletar dados e investigar relações de causa e efeito para determinar a origem dos defeitos e estabelecer um padrão para o processo.
- Analisar: analisar os dados coletados e mapear o processo para identificar as causas-raiz dos defeitos e as oportunidades de melhoria.
- Melhorar o processo: otimizar o processo com base na análise dos dados usando técnicas como o desenho de experimentos, poka-yoke ou prova de erros, e padronizar o trabalho para criar um novo estado do processo, executando projetos piloto para definir as melhorias possíveis.
- Controlar: nesta fase, é importante implementar medidas de controle para assegurar que o processo ou produto permaneça dentro das especificações e objetivos estabelecidos. Isso pode ser feito através de ferramentas como o controle estatístico de processo ou o quadro de produções, que permitem monitorar continuamente o desempenho do processo e tomar ações corretivas caso seja necessário.
Além do DMAIC, outro método famoso é o DMAV, adaptado para criar novos produtos e serviços. Ele se aproxima do outro método na maioria das etapas, mas se diferencia após a fase de Análise com a etapa de Design do protótipo, que é verificado para garantir os objetivos necessários à criação do bem de consumo, ao contrário do DMAIC que foca em melhorias de processos já existentes.
A implementação do Six Sigma se tornou um marco na história empresarial mundial, com casos notáveis de sucesso que ganharam destaque na mídia. Um desses casos é o da General Electric, que em 1996 investiu US$ 380 milhões no programa e em apenas dois anos obteve ganhos de US$ 1,5 bilhões. Outra empresa que também alcançou um grande sucesso foi a Dow Chemicals, que em um curto período de três anos, conseguiu obter ganhos da mesma ordem, em 1999, estimulando outras unidades do grupo a implementarem o Seis Sigma, independentemente da área funcional ou do produto fabricado.
No Brasil, o Grupo Brasmotor tornou-se uma referência no assunto, sendo a primeira empresa nacional a aplicar a metodologia. Dois anos após a implementação do programa, em 1999, a empresa já havia faturado R$ 20 milhões, consolidando seu lugar como um case de sucesso do programa no país.
Os benefícios gerados pelo Six Sigma no setor industrial são inúmeros. Entre eles, os que mais se destacam são:
- Redução de custos;
- Melhoria da qualidade e produtividade;
- Atração e fidelização de clientes;
- Eliminação de atividades desnecessárias;
- Transformação cultural positiva.
Aplicação do Six Sigma
O Seis Sigma utiliza projetos para conduzir as atividades de melhoria, que são definidos, de acordo com o PhD da Rutgers University e especialista sobre o tema, Ron Snee, como ” problemas agendados para solução”. Esses projetos são liderados por pessoas chamadas de Belts, que recebem treinamento em métodos estatísticos e gestão da qualidade. A estrutura de Belts é um diferencial do Seis Sigma e permite um funcionamento mais orgânico e mecânico das atividades de melhoria, além de proporcionar uma hierarquia altamente organizada. Os Belts são separados, respectivamente, em:
- Yellow Belts (YB) e White Belts (WB): profissionais de nível operacional treinados nos fundamentos do Six Sigma, dão suporte e disseminam informações sobre ferramentas e processos.
- Green Belts (GB): responsáveis por liderar projetos de menor complexidade, mas não ficam integralmente dedicados à resolução de problemas.
- Black Belts (BB): lideram equipes em projetos de alta complexidade e possuem habilidades técnicas e gerenciais avançadas. Devem ser agentes de mudanças na organização.
- Master Black Belts (MBB): auxiliam os Sponsors e Champions e são mentores dos Black Belts e Green Belts e prestam assistência especializada em diversas áreas.
- Sponsor (SP): responsável pela implementação do Six Sigma, garantindo que o método esteja alinhado com a estratégia da empresa.
- Champions (CH): gestores ou diretores com responsabilidades na seleção de membros da equipe, orientação estratégica, estabelecimento de escopo geral e remoção de barreiras.
Diferentemente de outros programas de melhoria, porém, o Six Sigma pode ter custos comparativamente mais elevados, tanto em investimento quanto em tempo, devido à complexidade de suas operações e, eventualmente, a necessidade de capacitação dos profissionais envolvidos. Para contornar isso, é importante que a empresa realize uma análise em conjunto com profissionais especializados para que seja possível adaptar o método de acordo com as demandas e capacidades da corporação.
Clique aqui para saber mais sobre a implementação do Six Sigma na General Electric: Henderson, K.M. and Evans, J.R. (2000) Successful Implementation of Six Sigma Benchmarking General Electric Company. Benchmarking An International Journal, 7, 260-282. – References – Scientific Research Publishing (scirp.org)
Clique aqui para saber mais sobre a implementação do Six Sigma na Dow Chemicals: A business process change framework for examining the implementation of six sigma: a case study of Dow Chemicals | Emerald Insight
Clique aqui para saber mais sobre a implementação do Six Sigma no Grupo Brasmotor: SciELO – Brasil – Seis sigma: fatores críticos de sucesso para sua implantação Seis sigma: fatores críticos de sucesso para sua implantação