As relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos desempenham um papel importante na economia global. Como duas das maiores economias das Américas, ambos trabalham para desenvolver a cooperação mútua e a integração econômica.
A história entre o país norte-americano e a indústria brasileira remonta ao século XIX, quando os EUA começaram a importar café, principal produto de exportação brasileiro na época. Desde então, a relação comercial entre os dois países cresceu e se diversificou em vários setores.
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, enquanto a nação brasileira é a décima no ranking de maiores parceiros da potência estadunidense. Além do comércio, a relação entre os dois países também é marcada por um forte investimento. As empresas americanas investem fortemente em setores estratégicos brasileiros, principalmente nos setores de manufatura, serviços financeiros e tecnológicos.
Entre as organizações americanas que fomentam a economia brasileira, está a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Fundada em 1961, a USAID é uma organização estatal que tem como objetivo promover o desenvolvimento socioeconômico em países emergentes, incluindo o Brasil.
A organização tem diversos programas de cooperação técnica e financeira com empresas e organizações brasileiras em áreas estratégicas, além de apoiar iniciativas de crescimento de pequenas e médias empresas. A USAID também atua em parceria com governos, setor privado e organizações da sociedade civil para promover a redução da pobreza e o fortalecimento da democracia e dos direitos humanos.
Na indústria, os EUA possuem uma posição de destaque como importadores de produtos brasileiros e exportadores de produtos manufaturados. No ano de 2022, as importações originárias dos Estados Unidos para o Brasil alcançaram um marco histórico, totalizando o montante de US$ 51,3 bilhões, um aumento de 30,3% em comparação com o ano anterior.
De maneira simultânea, as exportações brasileiras destinadas aos Estados Unidos apresentaram um salto de 20,2% em relação a 2021, registrando um valor nunca antes atingido de US$ 37,4 bilhões.
Na balança comercial entre os dois países, os três produtos mais comercializado são:
- Petróleo: os óleos de petróleo são um dos principais produtos comprados pelos EUA. O Brasil é um grande produtor e exportador de combustíveis fósseis e óleos de petróleo bruto e tem como o país americano um de seus principais consumidores;
- Máquinas e equipamentos: um dos produtos manufaturados mais comercializados entre as duas nações. O Brasil exporta uma grande variedade de equipamentos, incluindo aeronaves, automóveis, máquinas agrícolas e equipamentos médicos;
- Produtos químicos: são outro importante grupo de produtos comprados e vendidos nessa relação. O Brasil exporta diversos tipos de produtos químicos, incluindo produtos farmacêuticos, plásticos e fertilizantes e os Estados Unidos são um dos principais mercados consumidores nesse segmento.
Mudanças nas políticas industriais dos EUA abrem espaço para nova corrida industrial
Diante desafios geopolíticos, ambientais e de saúde pública que ocorreram nos últimos anos, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, assinou um conjunto de leis aprovadas pelo Congresso para remodelar a lógica do mercado nacional e internacional e competir com a China em termos tecnológicos e econômicos.
Os três programas criados foram a Lei de Investimentos e Empregos em Infraestrutura, que destina US$ 1,2 trilhão para a renovação de pontes, estradas, redes de comunicação e energias renováveis nos próximos dez anos; a Lei sobre Chips e Ciência (Chips), que projeta o investimento de US$ 280 bilhões no desenvolvimento da produção de semicondutores; e a Lei de Redução da Inflação (IRA), que estima despesas de US$ 391 bilhões ou mais para estimular o setor produtivo a utilizar fontes de energia sustentáveis.
As três leis foram criadas para reconstruir a capacidade da economia dos Estados Unidos, reindustrializar o país e fortalecer setores estratégicos como o de semicondutores e energia renovável, atuando diretamente na oferta e demanda.
Se você quiser saber mais sobre as novas políticas dos EUA, clique aqui e veja nosso texto sobre o assunto: O que podemos aprender com a indústria norte-americana – Viabiliza + (viabilizamais.com.br)
Em resposta, a União Europeia tomou medidas semelhantes, enfatizando a vertente industrial do seu Pacto Verde. Com isso, a corrida dos países desenvolvidos para diminuir sua dependência da China e dos combustíveis fósseis deve direcionar os investimentos no mundo inteiro.
A possibilidade de o Brasil seguir as novas tendências econômicas, como um mercado focado em sustentabilidade e a geração de tecnologia de ponta, é alta. Ao contrário de muitos países, o Brasil já possui posição de destaque em geração de energia limpa: 48% da matriz energética brasileira vem de fontes renováveis e essas fontes representam 82% da matriz elétrica, o que lhe dá vantagem para estruturar políticas públicas focadas em energia verde.
Além disso, pesquisas projetam um faturamento anual multibilionário no país – cerca de 238 bilhões de dólares – até 2050, caso seja adotada a total implementação da bioeconomia, um sistema econômico usado para alinhar a utilização de novas tecnologias que possuem a capacidade de reduzir impactos ambientais com produtos e serviços que busquem maior sustentabilidade em suas cadeias produtivas e de consumo.
Para saber mais sobre a projeção trilionária da bioeconomia no Brasil, clique aqui e veja nosso texto sobre o assunto: Sustentável e rentável: conheça a bioeconomia – Viabiliza + (viabilizamais.com.br)
Os incentivos de produção nacional de semicondutores realizada pelos EUA, entretanto, oferece um desafio que ainda deve ser melhor estudado em solo brasileiro. De acordo com dados do Ministério da Economia, as importações desse produto totalizaram US$ 8,8 bilhões em 2020, registrando um aumento de 18,8% em comparação ao ano anterior. Tal dependência ao mercado externo para tecnologias de ponta é visto como um ponto fraco no desenvolvimento nacional.
É o exemplo da multinacional Volkswagen que, em fevereiro deste ano, suspendeu novamente a linha de produção na maioria de suas fábricas no Brasil devido à falta de peças, principalmente chips. Por isso, a empresa deu dez dias de férias coletivas para os funcionários e manteve o funcionamento sem interrupções apenas na unidade de Taubaté, o que influenciará negativamente no faturamento da empresa.
Políticas de incentivo fiscal e de investimento, tanto público quanto privado, em tecnologia de ponta, tal qual semicondutores, se mostram necessárias para inverter esse quadro a médio e longo prazo. Fato é que, com as novas dinâmicas de reindustrialização surgindo no horizonte, o Brasil e, principalmente, a indústria brasileira, possuem potencial para transformar o país em uma nação cada vez mais autônoma, autossuficiente e sustentável.
Para saber mais sobre o balanço comercial entre Brasil e EUA em 2022, clique aqui: Comércio entre Brasil e EUA vai a US$ 88,7 bi e bate recorde em 2022, diz pesquisa (cnnbrasil.com.br)
Para saber mais sobre a falta de chips que suspendeu a produção de unidades da VW, clique aqui: Volkswagen suspende produção em três unidades do Brasil por falta de peças | Economia | O Globo