As relações comerciais entre Brasil e Argentina têm uma função ímpar na economia sul-americana. Como membros do Mercosul, uma iniciativa regional que visa a integração econômica e política dos países membros, ambos trabalham para o desenvolvimento mútuo entre as nações que compõem o bloco.
Essa relação bilateral é historicamente intensa, devido ao tamanho dos dois países, que são os maiores da América do Sul, tanto em termos de tamanho geográfico quanto em população e Produto Interno Bruto (PIB).
Na década de 1970, o Brasil e a Argentina iniciaram um processo de integração econômica, criando mecanismos para aumentar o comércio, como a Associação Latino-Americana de Integração (ALADI) em 1980. Na década de 1990, as relações comerciais deterioraram-se devido a conflitos econômicos e políticos, incluindo a desvalorização do Real brasileiro em 1999. A partir de 2003, as relações começaram a se recuperar, impulsionadas pelo crescimento econômico e pelo fortalecimento do Mercosul, que reduziu as barreiras comerciais.
Em seus setores industriais, tal dinâmica de interdependência econômica gera uma cadeia de valor significativa, na qual empresas brasileiras e argentinas atuam em conjunto em projetos e complementam-se em termos de recursos e tecnologias. A Argentina, hoje, é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil em importações, movimentando US$ 11,948 bilhões (5,45% do total de produtos exportados pelo Brasil) no ano passado.
Entre os principais produtos movimentados a partir deste mercado, é possível destacar:
- Automóveis: A indústria automotiva é uma das áreas de maior integração entre Brasil e Argentina, com montadoras estabelecidas em ambos os países e uma forte parceria na produção de veículos. Hoje, o país argentino é o maior importador de carros brasileiros, representando 33% dos despachos totais. Isso representa mais que o dobro se comparado ao segundo colocado, que é a Colômbia, com 16% de representação;
- Produtos químicos: o comércio de produtos químicos é significativo e envolve uma ampla variedade de produtos, incluindo fertilizantes, plásticos, tintas e resinas;
- Soja: o Brasil é um dos maiores produtores de soja do mundo e um importante fornecedor desse produto para a Argentina. A soja é utilizada principalmente para a produção de óleo e ração animal;
- Produtos siderúrgicos: envolve produtos como aço, ferro e alumínio, que são muito utilizados na indústria e construção civil;
- Alimentos: além da soja, são comercializadas carnes, produtos lácteos, frutas, verduras e produtos processados.
CNI e UIA criam lista de prioridades para renovar a parceria entre os setores industriais dos dois países
Em janeiro deste ano, a União Industrial Argentina (UIA) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) emitiram uma declaração conjunta propondo ações prioritárias aos governos de ambos os países para avançar nas agendas econômica e comercial bilateral e regional.
O documento foi apresentado aos presidentes Lula e Fernández durante uma reunião entre empresários e chefes de Estado realizada na Casa Rosada, em Buenos Aires, e foi assinado em nome do Conselho Empresarial Brasil-Argentina (Cembrar).
Algumas das ações prioritárias propostas na declaração conjunta incluem a aceleração das negociações externas com mercados estratégicos para a indústria, como a conclusão formal do Acordo União Europeia-Mercosul, entre outros tópicos atuais, como a discussão sobre os desafios de implementar novas tecnologias em PMEs ou os debates acerca da expansão do Sistema de Moeda Local (SML) como ferramenta a ser utilizada.
De acordo com o Presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, a relação entre os dois países desempenha um papel estratégico, pois promove o desenvolvimento da indústria, principalmente a de transformação. “Brasil e Argentina são parceiros comerciais estratégicos. Quase 90% da corrente de comércio é composta por bens da indústria de transformação, principalmente, produtos de maior tecnologia e maior valor agregado. O fortalecimento das relações trará ganhos mútuos para as economias dos dois países, com ganhos para emprego e renda da população”, afirmou em entrevista.
O documento, disponível gratuitamente, enumera sete prioridades para os líderes governamentais das duas nações. São eles:
- Estabelecer uma estratégia comum para impulsionar o investimento produtivo com base em um crescimento econômico estável;
- Promover investimentos para estimular o fornecimento de energia, infraestrutura e conectividade entre os dois países e na região;
- Eliminar barreiras comerciais e avançar na implementação de iniciativas de convergência e cooperação regulatória;
- Aprofundamento dos compromissos de facilitação do comércio e desburocratização;
- Acelerar a agenda de negociações externas, em bloco, com mercados estratégicos à indústria;
- Promover a cooperação em direção a uma economia de baixo carbono, incluindo temas como transição energética, mercado do carbono, economia circular e conservação florestal;
- Promover programas conjuntos de digitalização e Indústria 4.0.
Para saber mais sobre a agenda de revitalização das indústrias propostas pela CNI e pela UIA, clique aqui: Indústrias brasileira e argentina listam prioridades para revitalizar agenda de integração bilateral – Agência de Notícias da Indústria (portaldaindustria.com.br)
Para ler a declaração conjunta entre CNI, UIA e Cembrar, clique aqui (arquivo em PDF): declaracao_conjunta_cembrar_-_janeiro_2023.pdf (portaldaindustria.com.br)