Queda na produção nacional: os impactos da desindustrialização


A desindustrialização brasileira é um dos maiores desafios enfrentados atualmente pela sociedade. Caracterizado pela redução significativa da participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) do país ao longo do tempo, esse processo pode ser compreendido como uma diminuição da relevância da indústria, principalmente a de transformação, na economia nacional, em contrapartida ao crescimento dos setores de serviços e agrícola.

Historicamente, a desindustrialização brasileira ganhou impulso a partir da década de 1980, quando o país passou por uma série de transformações econômicas. Essas mudanças resultaram em uma maior competitividade do setor externo, o que levou à substituição de produtos nacionais por importados, afetando negativamente a indústria brasileira.

No ano de 1985, por exemplo, a indústria representava mais de 46% do PIB, com o setor de transformação correspondendo a 35,9% dessa parcela. Hoje, o setor industrial é responsável por 23,6% do PIB nacional, onde o setor de transformação representa apenas 12% da proporção.

O processo, entretanto, não ocorreu apenas no Brasil, incorporando também outros países durante o final do século XX. Nessa época, muitas nações buscaram equilibrar diversos setores econômicos, incluindo indústria, comércio, serviços e agronegócio, e o Brasil seguiu essa tendência.

No caso da indústria brasileira, porém, a desindustrialização ocorreu de forma prematura, levando em consideração o contexto histórico em que o país se encontrava, com uma indústria ainda em desenvolvimento e sem a mesma capacidade tecnológica de outros polos internacionais. Como resultado, o Brasil passou a exportar e produzir cada vez mais produtos de baixo valor agregado, como commodities, que são mercadorias de origem primária, como grãos, minérios, madeiras, gado e óleos.

Além da disparidade tecnológica em relação a outros países, diversos fatores contribuem para que a indústria brasileira não atinja seu potencial máximo, tais como:

  • Falta de investimento em inovação e tecnologia: a falta de investimentos adequados em pesquisa e desenvolvimento e em inovação tecnológica prejudica a capacidade da indústria brasileira de se modernizar e se tornar mais eficiente.

  • Custo Brasil: expressão que abrange um conjunto de desafios econômicos, estruturais, burocráticos e trabalhistas que encarecem os preços de produtos e serviços nacionais e de sua logística. Seus efeitos negativos eventualmente trazem consequências ao investimento de empresas e seu desenvolvimento.
  • Desvalorização da moeda nacional: a desvalorização do Real em relação a outras moedas pode tornar as importações mais caras, mas também afeta negativamente o poder de compra das empresas para adquirir insumos importados e tecnologias necessárias.
  • Dificuldades de financiamento: o acesso ao crédito e financiamento para investimentos em infraestrutura, tecnologia e modernização é muitas vezes limitado e oneroso para as indústrias brasileiras.
  • Falta de políticas industriais consistentes: a ausência de políticas industriais claras e efetivas, que incentivem o crescimento e a competitividade do setor, contribui para a continuidade da desindustrialização.

Se você quiser entender melhor as políticas industriais, clique aqui e leia nosso texto sobre o assunto: As distintas faces da política industrial – Viabiliza + (viabilizamais.com.br)

  • Baixa qualificação da mão de obra: a falta de qualificação adequada da mão de obra limita a capacidade da indústria brasileira de adotar tecnologias avançadas e processos produtivos mais eficientes.

Além disso, o fenômeno da desindustrialização impacta diretamente os diversos segmentos industriais, a economia e a população, de modo a causar diversos desafios estruturais que influenciam negativamente os diversos setores da sociedade. Entre essas consequências, pode-se destacar:

  • Desemprego: a redução da atividade industrial resulta em demissões em larga escala, gerando desemprego e precarização do mercado de trabalho.
  • Deterioração da infraestrutura e dos parques industriais: com a diminuição dos investimentos na indústria, a infraestrutura produtiva tende a ficar defasada, afetando a capacidade de competitividade do país. Esse desafio influencia diretamente o potencial do país em desenvolver polos industriais capazes de integrar tecnologias da Indústria 4.0.
  • Dependência de setores primários: a desindustrialização pode levar a uma maior dependência de setores primários, como a exploração de commodities, o que torna a economia mais vulnerável a oscilações de preços e demanda internacional.
  • Baixa inovação tecnológica: a indústria é um importante motor de inovação e desenvolvimento tecnológico. Com sua redução, o país pode enfrentar dificuldades em acompanhar avanços tecnológicos e perder competitividade no mercado global. Ao considerar a variedade de benefícios da Indústria 4.0, o setor industrial brasileiro é gravemente afetado ao não conseguir integrar novas tecnologias e processos mais eficientes em sua cadeia produtiva.
  • Desequilíbrio regional: a concentração da atividade industrial em determinadas regiões do país, aliada à desindustrialização, pode acentuar as desigualdades regionais, aumentando a disparidade econômica e social.
  • Queda na arrecadação de impostos: com a diminuição da indústria, a arrecadação de impostos também é afetada, comprometendo os recursos disponíveis para investimentos em áreas como saúde, educação e infraestrutura.
  • Redução da capacidade de exportação: a desindustrialização pode reduzir a diversidade e a qualidade dos produtos brasileiros destinados à exportação, limitando as oportunidades de inserção em mercados internacionais.
  • Fragilização da defesa nacional: a indústria nacional é fundamental para garantir a autonomia, a segurança e a soberania do país em áreas estratégicas, como defesa e tecnologia.


Para a CNI, reversão da desindustrialização é fundamental

De acordo com Robson Braga de Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o crescimento econômico e industrial do Brasil deve passar, antes, por uma reversão desse processo de desindustrialização. 

“A reversão da acelerada e precoce desindustrialização em curso no Brasil é crucial para que o país retome a trilha do crescimento econômico, de forma sustentável. E este objetivo só será alcançado com a adoção de medidas que garantam às indústrias nacionais igualdade de condições frente à acirrada competição do mercado internacional, com a eliminação do Custo Brasil e com políticas de apoio à indústria similares às implementadas pelos nossos competidores”, afirma Andrade em seu texto publicado no Portal da Indústria.

Nesse contexto, a reindustrialização das forças produtivas do país tem sido um importante objeto de estudo e discussão para a economia brasileira. As oportunidades são muitas, pois o país possui um grande mercado consumidor interno e recursos naturais abundantes, além de uma posição estratégica em relação aos mercados internacionais.

Pensando nisso, a CNI desenvolveu o Plano de Retomada da Indústria, onde são apresentadas 60 propostas, divididas em 9 eixos temáticos, que abrangem as seguintes áreas: tributação, ambiente regulatório e segurança jurídica, financiamento, comércio e integração  internacional, infraestrutura, inovação e desenvolvimento produtivo, educação e relações de trabalho, além de desenvolvimento regional.

Para saber mais sobre o Plano de Retomada da Indústria. clique aqui: Plano de Retomada da Indústria – Uma nova estratégia, focada em inovação, descarbonização, inclusão social e crescimento sustentável – Portal da Indústria – CNI (portaldaindustria.com.br)

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