O impacto da política industrial chinesa


A China é um dos maiores protagonistas da economia mundial, com taxas de crescimento elevadas, uma inserção internacional competitiva e uma estratégia de internacionalização de suas empresas e negócios. Esses resultados não são frutos apenas das forças de mercado ou da intervenção estatal na economia, mas também de uma política industrial que orientou as mudanças na estrutura produtiva do país e criou as condições para a competitividade industrial.

A política industrial chinesa pode ser entendida como o conjunto de medidas e instrumentos adotados para promover o desenvolvimento e a modernização do setor industrial, bem como para estimular a inovação tecnológica e a diversificação das exportações. Essa política teve diferentes fases e objetivos ao longo da história econômica da China, mas sempre esteve presente como um elemento central da estratégia de desenvolvimento.

Na primeira fase, após a fundação da República Popular da China em 1949, a política industrial seguiu o modelo de priorização da indústria pesada, com base na planificação centralizada. O consumo foi reduzido enquanto que foi dada grande prioridade para a rápida industrialização. Essa fase foi marcada por grandes projetos de infraestrutura, como a construção da Usina Hidrelétrica de Sanmenxia, em 1960, e Ferrovia de Qinghai-Tibet, a mais alta do mundo, que foi iniciada em 1956 e finalizada em 2006. O país também enfrentou graves problemas sociais e econômicos, como a fome que acompanhou o início do Grande Salto Adiante e a instabilidade política durante Revolução Cultural.

Na segunda fase, a partir do final dos anos 1970, com as reformas econômicas iniciadas por Deng Xiaoping, a política industrial passou por uma profunda transformação, buscando integrar a China à economia mundial e promover o desenvolvimento das regiões costeiras.



Uma das principais medidas dessa fase foi a criação das Zonas Econômicas Especiais (ZEEs), áreas delimitadas que ofereciam incentivos fiscais, cambiais e regulatórios para atrair investimentos estrangeiros e estimular as exportações. As ZEEs foram fundamentais para o surgimento de um setor industrial dinâmico e diversificado, baseado em indústrias leves, como têxteis, eletrônicos e brinquedos. Essa fase também foi caracterizada pela abertura gradual do mercado interno, pela descentralização do poder econômico e pela emergência de novos agentes produtivos, como as empresas coletivas rurais e as empresas privadas.

Na terceira fase, a partir dos anos 2000, com o ingresso da China na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2001 e o lançamento da estratégia going global entre os anos 1999 e 2002, a política industrial assumiu um novo desafio: aumentar a competitividade das empresas chinesas nos mercados globais e promover o avanço tecnológico e a inovação.



Para isso, o Estado adotou uma série de medidas e instrumentos, como o apoio financeiro e creditício às empresas estatais e privadas que buscavam se internacionalizar; o incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento (P&D) nas áreas estratégicas, como energia renovável, biotecnologia e tecnologia da informação; o estabelecimento de parcerias com países em desenvolvimento para ampliar os mercados externos; e o fortalecimento da proteção à propriedade intelectual. Essa fase também foi marcada pela ascensão da China como uma potência industrial, capaz de produzir bens de maior valor agregado e complexidade tecnológica.

O crescimento gerado pela indústria chinesa


O impacto da política industrial na economia chinesa foi significativo em vários aspectos. Em termos de crescimento econômico, a China registrou uma média anual de 10% entre 2000 e 2010 e o setor industrial contribuiu diretamente nesse crescimento. Segundo o Banco Mundial, o valor total da produção industrial da nação em 2019 foi de 3,8 trilhões de dólares. É possível afirmar, então, que a Indústria foi o segmento que mais proporcionou ao país o status de segunda maior economia do planeta, estando atrás apenas dos Estados Unidos.

Entre os setores da indústria que mais se destacam no país asiático, pode-se citar: 

  • Mineração: é um dos maiores produtores e consumidores de minerais do mundo, como ferro, carvão, alumínio, cobre, zinco, estanho, tungstênio, antimônio e molibdênio.
  • Siderurgia: a China é o maior produtor e consumidor de aço do mundo. O produto é utilizado para construir rodovias, portos, usinas e outras obras, além de ser exportado para o mundo.
  • Dispositivos médicos: a indústria de tecnologias para uso médico e hospitalar, como equipamentos de diagnóstico, próteses ortopédicas, implantes, aparelhos auditivos e instrumentos cirúrgicos possui um grande peso na economia chinesa.



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Diferenças entre a política industrial chinesa e brasileira

A política industrial brasileira e a chinesa apresentam algumas diferenças significativas, que refletem as distintas trajetórias históricas, as condições estruturais e os desafios atuais desses dois países emergentes. 

O Estado chinês tem um papel central na formulação e na implementação da política industrial, que é considerada um instrumento essencial para o desenvolvimento nacional. O Brasil, por sua vez, tem uma menor intervenção estatal na economia, o que influencia na presença de incentivos e programas de desenvolvimento. É importante ressaltar, porém, que cada contexto possui pontos positivos e negativos e o que funcionou em uma sociedade não necessariamente refletiria em sucesso em outra.

A China também possui uma política industrial voltada para a indústria de transformação e os setores de alta tecnologia e de bens de capital, que são considerados estratégicos para o aumento da competitividade e da inovação, investindo maciçamente em ciência, tecnologia e educação, enquanto a indústria brasileira, hoje, tem como foco a produção de produtos de baixo valor agregado, como as commodities. 

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É importante mencionar que, mesmo com essas diferenças, os países possuem uma boa relação bilateral, assim como as relações do Brasil com os Estados Unidos, países europeus e países latino-americanos, onde a China possui programas de fortalecimento da economia brasileira por meio de incentivos.

Além disso, recentemente, as duas nações planejam desenvolver novas estratégias de negócios que não dependam do dólar para realizar negócios, o que pode vir a diminuir os custos de transação ao eliminar taxas de conversão.

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Para saber mais sobre os números relacionados economia chinesa e a participação do setor industrial, clique aqui para acessar os dados do Banco Mundial: Manufacturing, value added (current US$) | Data (worldbank.org)

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